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Trevo de quatro folhas

  • Rita Asseiceiro
  • 16 de mar. de 2019
  • 13 min de leitura

É um dia de primavera, o cantar da natureza faz-se ouvir. Uma brisa levanta tanto poeira como sementes. É o começo de uma nova vida. Depois de uma semente de trevo assentar, a germinação inicia-se. O caule do trevo nasce, frágil e pequeno. Nos dias seguintes, desabrocha uma folha, depois outra e logo a seguir outra. De repente e sem aviso prévio ao mundo, surge uma quarta folha. É uma raridade na sua mais bela forma, um trevo de quatro folhas.

Albino Silva é um trevo de quatro folhas para todas as pessoas que o rodeiam. Quando nasceu, Albino era um menino normal, como todos os outros. Sem problemas físicos nem mentais, sem deficiências nem perturbações… Foi assim até aos dezoito meses.

Um dia, o Albino começou a cair constantemente, provocando um forte traumatismo craniano. A partir desse momento, Maria Figueiredo da Silva, mãe de Albino, apercebeu-se de que as suas vidas iam mudar. O Albino ia deixar de ser igual aos outros meninos, ia deixar de ser um trevo de três folhas para ser um trevo de quatro folhas.

Os primeiros meses foram complicados. O Albino tinha várias crises enquanto dormia, no entanto não eram as crises normais de epilepsia. As crises começavam com uma mão a tremer. Outras vezes, o braço. O Albino chegava até mesmo a fazer barulhos com a língua. Mas algo que é impossível de esquecer é “o olhar fixo. Essas é que eram as piores, era para esquecer”, como afirma a mãe.

O primeiro estado convulsivo do Albino ocorreu durante a noite. Os pais, Maria Figueiredo da Silva e Albino Silva, correram para o hospital, em estado de pânico. O choque inicial foi quando os médicos diagnosticaram um forte traumatismo, uma doença mental irreversível.

Albino, até aos dezoito meses, era uma criança desenvolvida e brincalhona. No entanto, de um momento para o outro, tudo mudou. O menino deixou de conseguir fazer as suas rotinas diárias autonomamente, ficava sem reação e não conseguia andar sem cair. Pior ainda, o Albino perdeu tudo o que aprendeu até então, sendo muito difícil de controlar. “Quando ele tinha aquelas crises de noite, tudo o que ele sabia fazer, de manhã já não sabia, tínhamos de ensinar tudo outra vez”, conta a mãe.


Isto foi uma batalha muito grande, desde os 2 anos até aos 10 anos” - Maria Figueiredo da Silva

Para além de os pais se recordarem destes episódios, o próprio Albino também tem memórias. Certo dia, estava ele deitado, prestes a adormecer, quando chama o pai, aflito. A sua mão estava a tremer e o Albino não sabia porquê. Atualmente, o Albino está medicado mas recorda com tristeza e pânico estas crises.

Apesar da epilepsia e do traumatismo craniano, a família tentava dar-lhe uma vida normal. Se ele se portava mal, a mãe ralhava. Se o irmão, Ricardo, se portava mal, ralhava também. Nunca houve qualquer preferência por nenhum dos dois. “O que nós fazemos, ele faz igual. Onde nós vamos, ele vai também”, realça a mãe. Até mesmo a vestir e a calçar, o Albino fazia sozinho e errava. Mas esses erros nunca foram um impedimento, foram uma forma de ajuda e desenvolvimento do próprio Albino. No entanto, Maria confessa que protegia demais o Albino, “eu tinha medo que ele caísse”. Foi assim ao longo dos anos, sempre perto do filho, a tentar protegê-lo, a dar-lhe a mão a passar ao estrada.

Aos 6 anos, Albino entra para a escola, como um menino normal. No entanto, nem mesmo com sorte e amor é possível alcançar a perfeição. Dificuldades e conflitos preencheram os dias do Albino. Nas aulas, tentava acompanhar a matéria, aprendeu a ler bastante bem. A mãe ajudava-o, em casa, comprando livros de inglês e história que ele fazia satisfeito. Comprava, ainda, livros com a tabuada, de contas e com letras, jogos para medir a força e saber encaixar as letras nos lugares corretos. Os pais sempre apoiaram o Albino.

Nos intervalos, o Albino adorava jogar à bola. Sair do edifício, poder correr e ter uma bola nos pés dava um enorme sentimento de liberdade ao menino. Contudo, os outros alunos não deixavam. Desde baterem ao Albino até acusarem-no de fazer rasteiras. Tudo isto acompanhava o dia a dia do Albino. Nem durante as refeições, Albino tinha sossego… chegaram até a roubar-lhe o almoço.

Contudo, não foram só os alunos que proporcionaram uma má experiência ao menino. As educadoras e funcionárias não deram o seu melhor. A mãe de Albino partilha o acontecimento que mais a marcou naquele período. Um dia, “o Albino estava há uma hora na casa de banho e ninguém ia ver o que é que o Albino estava a fazer durante uma hora”. Maria não aguentava ver a irresponsabilidade da escola para com o Albino, já que “podia ter-lhe dado alguma coisa na casa de banho, nem professora nem ninguém foi saber do Albino, quando ele estava lá há uma hora”.


O meu filho não é nenhum palhaço, não vai fazer de palhaço para escola nenhuma nem para termos chatices” - Maria Figueiredo da Silva

No fim do ensino básico, os pais tiraram o Albino da escola pública e inscreveram-no no Colégio Bola de Neve. Aos 12 anos, Albino teve a possibilidade de interagir com colegas com deficiência mas também sem deficiência. Assim, foi possível aprender a conviver com todas as pessoas e ter experiências diferentes.

Aos 20 anos, o Albino entrou para a Cerci Lisboa – Cooperativa de Educação e de Reabilitação de Cidadãos com Incapacidades –, do centro CTVAA (Centro de Transição para a Vida Adulta e Ativa, um Centro de Atividades Ocupacionais). Os centros pretendem apoiar os clientes no desenvolvimento do seu Projeto de Vida. Os clientes beneficiam da intervenção de uma equipa multidisciplinar e de uma diversidade de atividades, atendendo às suas necessidades e expetativas. Para tal, um conjunto de terapeutas, psicólogas e monitores têm o objetivo diário de promover a funcionalidade e melhorar as capacidades físicas dos clientes da Cerci, desenvolver as competências ao nível do relacionamento interpessoal, a autodeterminação, a autonomia, o bem-estar, cidadania e participação social e promover atividades de âmbito lúdico-recreativo, desportivo, cultural e social. Para além disso, a Cerci foca também a sua atenção na valorização pessoal do cliente e o desenvolvimento da sua autonomia, facilitando a transição para programas de inserção socioprofissional.

Apesar de o Albino ser uma pessoa com uma deficiência mental, não se via como tal. Achava-se diferente e especial, mas não igual aos colegas que encontrou na Cerci. Foi um choque para ele e para o pai. “Eu não sou igual a eles”, dizia o Albino, nos primeiros meses, pois não estava habituado a relacionar-se com outras pessoas com deficiência, por vezes até pior que a dele. Já o pai achava que não era o melhor local para colocar o filho. Tal como o Albino, achava que as outras pessoas não eram iguais a ele. Inicialmente, custava-lhe ir às festas e reuniões da Cerci.

Albino teve de passar por um período de adaptação e, principalmente, de evolução. Tirar um curso e trabalhar sempre foi a sua única opção, considerava que mudaria o rumo da sua vida. No entanto, Albino deparou-se com algo inexequível. A psicóloga responsável, Inês Melo, considera que “foi um trabalho, primeiro, de mostrar que ele tinha de melhorar algumas coisas nele próprio, no saber ser, no saber estar com os outros, respeitar as diferenças que ele não sabia porque ele também não conhecia muito bem, não sabia que algumas pessoas que podem ter também mais dificuldades que ele, mas que podem conseguir fazer coisas muito interessantes também”. Enquanto que umas pessoas sabem ler e escrever. Outras sabem andar sozinhas de autocarro. E não é por isso que deixam de ter mais ou menos dificuldades que o Albino.


Todos nós temos de ter notas boas nos testes, todos nós temos de saber ler e escrever, aquele padrão que a sociedade nos vai transmitindo não é definitivo para um percurso de vida” - Inês Melo

A sociedade tem ainda a mentalidade muito fechada, definida para aceitar o que é normal, esquecendo-se de que nem sempre pode ser assim. Existe, ainda, muito o mito de que quem tem boas notas nos testes, tem um bom emprego e um bom futuro; quem tira licenciatura e mestrado, também. No entanto, nem tudo na vida é assim tão literal.

Os meses foram passando e o Albino apercebeu-se que talvez fosse possível ter um trabalho como sempre sonhara. Albino só não queria ficar parado; queria ser ativo, ajudar o próximo. Entrou, então, no grupo de participação, já criado anteriormente pela equipa da Cerci. O grupo de participação tenta mostrar o que é a autorrepresentação – o grande foco deste grupo. Atualmente, o grupo mudou de nome para grupo “Somos”.

Albino chega da natação, com o cabelo molhado e de t-shirt. Na hora da entrevista, vai à casa de banho, penteia-se e veste uma camisa azul. Chega à sala de reuniões todo cheiroso e bem composto. Com um brilho nos olhos, estava pronto para falar do grupo de participação. Cheio de orgulho, explica no que consiste o projeto que abraçou com mais carinho. A autorrepresentação é “o movimento onde cada um expressa e representa-se a si próprio, diz o que pensa, o que sente e o que quer”.

Albino reconhece que sentiu algumas dificuldades, mas que nunca baixou os braços e é uma experiência da qual está muito orgulhoso. “Foi engraçado. Foi a primeira vez que tínhamos coisas para fazer e estávamos ali a ver quem é que fazia o quê e não estávamos habituados a estar assim sozinhos a trabalhar em conjunto”.

O grupo começou com vinte e um clientes e três auxiliares, a Sara, a Rute e a Filipa. Albino conta ainda que atualmente o grupo diminuiu para dez pessoas.

O primeiro projeto do grupo foi a elaboração de um cartaz com os direitos e deveres dos clientes da Cerci Lisboa, em linguagem acessível, que posteriormente foi afixada à entrada. Desta forma, todas as pessoas que entrem no centro podem estar em contacto com todos os clientes e com aquilo que se realiza dentro da Cerci.

O grupo “Somos” não é só trabalho. “O ano passado fizemos uma festa com DJ para toda a gente, à noite”, conta Albino com uma pequena risada no meio. Muitos dos clientes da Cerci nunca tiveram a oportunidade de sair à noite com os amigos, durante a adolescência, ir beber uns copos. Esta ideia realizada por Albino e restantes colegas permitiu que eles tivessem as mesmas experiências que todos nós tivemos.

No entanto, estas atividades não se fazem apenas na Cerci e para os clientes da Cerci. As pessoas dotadas de mais capacidade para comunicar e expressar-se perante um público também realizam palestras e formações para o público em geral. O Albino é um desses felizardos. Desta forma, são capazes de se integrarem a nível social na sociedade.

O dia antes da apresentação chegou. Estava na hora de ir treinar. Albino foi, rapidamente, trocar a roupa para ficar mais elegante. Com alguma gaguez e hesitação, foi assim que começou a falar sobre a Cerci e o seu grupo de participação. Uma sala retangular, os seus colegas de olhos postos nele. Ainda faltava treinar mais um bocadinho para ficar perfeito. Mas tudo iria correr bem. Maria convenceu o pai Albino a também ir dar apoio ao filho. Amor não faltava.

Em casa também foi espaço de treino. Em frente ao espelho da casa de banho, do quarto ou até mesmo para a mãe, Albino disse vezes e vezes sem conta a sua apresentação. A mãe, com um sorriso no rosto, conta ainda que o Albino tem noção do que é melhor para ele. Se o Albino acha que deve colocar todo o texto para a apresentação numa só folha, o Albino vai ao escritório, liga a impressora e o computador e faz. Sem qualquer tipo de ajuda.

A psicóloga relembra mais um projeto que realizaram no grupo de participação. “Sussurros” era o nome da atividade. Um grupo de clientes da Cerci ia para a rua, em frente ao centro, e sussurrava ao ouvido de desconhecidos frases relacionadas com os abusos e os maus tratos, através de tubos. Este projeto permitiu aos clientes, aos trevos de 4 folhas, perceber que nem todas as pessoas se sentem confortáveis perto deles, devido à sua deficiência.

De Portugal para a Europa. Albino foi o escolhido para ir a Espanha, Alemanha e Bruxelas para representar a Cerci e os projetos desenvolvidos no grupo. Albino tem noção da importância do que ele faz - “Vou representar não só a mim mas também os outros”.

A Cerci pretende, também, incentivá-los a fazer escolhas e a tomar decisões de forma a influenciarem o rumo da sua própria vida, não só referente ao trabalho, mas também a pequenas coisas da vida, como aprender o caminho para casa. Albino não foi exceção. Também foi necessário um processo de aprendizagem de pequenas coisas, pelas quais todos os trevos de 3 folhas passam. No entanto, este processo dá-se de forma diferente e em tempos diferentes.

Joana foi o primeiro e único amor de Albino, na Cerci. Conheceram-se no Colégio Bola de Neve, mas cruzaram-se novamente no centro. De olhos castanhos, de estatura alta e de cabelo encaracolado, Joana é um ano mais velha que Albino. Ambos não tinham qualquer tipo de conhecimentos e experiências anteriores. “Ele aprendeu um pouco mais tarde, ele e a maior parte destes jovens, porque dificilmente têm namoros na escola, normalmente não conseguem arranjar pares”, explica a psicóloga Inês Melo. Mas as dificuldades não foram impedimento para Albino. O percurso foi longo, mas Albino conseguiu perceber o que realmente queria para a sua vida. “Parece que eu gosto mais de alguém com quem eu consiga conversar e com esta pessoa eu não consigo conversar” é um exemplo que Inês dá quando relembra as inúmeras conversas que teve com o Albino durante o processo de descoberta amorosa.

Aos poucos e poucos, Albino foi identificando aquilo de que gostava e de que não gostava numa pessoa, o que considerava importante para uma relação, que tipos de conversas pode ter com amigos e com a namorada. Mas, acima de tudo, o respeito é fundamental.

A relação com a mãe, o seu maior sustento familiar, também foi melhorada, ao longo dos anos. Mas algo sempre foi constante. Quando se junta dinheiro, a conversa muda logo de rumo. Quando chegava a altura do mês de o Albino receber o seu próprio dinheiro, o primeiro pensamento era “vou comer um gelado”. Inês, psicóloga responsável por Albino, tentou incutir-lhe valores de partilha e de economia. “Bom, então quando a mãe receber o próximo ordenado também vai comprar coisas para ela”, dizia Inês em tom de brincadeira mas também de aprendizagem.

Após alguns meses, a capacidade de financiamento de Albino tinha melhorado. Albino afirmou “que uma coisa que faz falta e que os pais iam gostar era de uma máquina de café”. E assim foi. Comprou a máquina e deixou os pais felicíssimos por o filho perceber que dar e receber é bom ou melhor que apenas receber.

Forreta não será a palavra certa, mas a verdade é que Albino não gosta de gastar dinheiro desnecessariamente. Quando foi para Espinho com o resto dos colegas da Cerci e com as terapeutas, o autocarro parou em Pombal, para descansarem um pouco. Albino sai do autocarro, dirige-se a um café e pede um descafeinado. Fica indignado com o preço, 1 euro e tal por um descafeinado. Na Cerci, Albino está habituado a beber um por 40 cêntimos. A mesma reação ocorreu quando lhe pediram 7 ou 8 euros por um sumo e uma merenda. Quando chega a casa conta toda a situação aos pais e afirma “quase que me roubavam o dinheiro todo”. Mas a mãe do Albino vê esta reação com felicidade, “isso é bom porque ele notou a diferença”.

A 23 de novembro, Albino dá um pequeno passo para os trevos de 3 folhas, mas um grande passo para os trevos de 4 folhas. Com 32 anos, este foi o primeiro dia em que fez a barba sozinho. Orgulhoso chega à sala de jantar, onde estavam os pais, e diz “olhem fiz a barba. E já tomei banho e tudo”. O pai que lhe costuma fazer sempre a barba e o bigode, chega-se ao Albino e com ar de animação e felicidade afirma “ah grande homem, a partir de agora não te faço mais o bigode”.

Albino não consegue fazer o movimento rotativo com a mão, por isso o uso da máquina de barbear torna-se impossível para ele. No entanto, os pais compraram-lhe lâminas e assim Albino pode ser mais independente e conseguir fazer a barba sozinho.

Para além de todas as conquistas a nível pessoal e económico, Albino também conseguiu um emprego. A ASU, Atividades Socialmente Úteis, é uma componente da Cerci e que proporciona aos clientes que têm deficiência intelectual uma oportunidade de realizarem tarefas, quase como um emprego normal, mas ao abrigo de um protocolo. Desta maneira, não lhes é retirado qualquer subsídio e apoio social que a pessoa tenha.

Esta era a solução ideal para o Albino. Ele tinha chegado à Cerci com a ideia de fazer um curso profissional para depois ter maior facilidade de acesso ao mercado de trabalho. No entanto, para uma pessoa com dificuldades não seria tão fácil quanto aparentava.

A Vortal, empresa de contratação pública eletrónica alemã, pertence à lista de firmas que têm parceria com a Cerci. Em 2008, Albino começou a trabalhar na Vortal, a partir da Cerci. “A minha primeira tarefa era tirar os anúncios do Diário da República para o Excel. A outra era mudar os nomes com números ou com letras”, explica Albino.

Quatro anos depois, Albino passa a desempenhar funções nas instalações da empresa. Às 9 da manhã, Albino chega. Benfiquista ferrenho, a vista para o estádio do Sporting Clube de Portugal não é a melhor, mas começa o dia sempre com vontade. Albino entra, sobe o elevador e chega a uma sala grande cheia de secretárias e computadores. “Assim que ligo o computador começo logo a trabalhar na tabela de Excel, onde estão os tais números que eu tenho, que eu vou procurar na Internet, no site próprio da empresa e esses números se aparecem tenho de pôr OK como estão vistos, e guardar alguns em modo PDF. Se não aparecerem, é porque já não existem, já foram apagados. Se aparecerem, mas estiverem a amarelo, eu tenho de pôr OK, ou seja, têm de passar para verde”, explica pormenorizadamente Albino.

O Albino também já teve a oportunidade de participar no dia de apresentação à empresa, como nos explica o próprio: “já estive duas vezes a fazer essas videoconferências, onde estive a explicar o trabalho que eu fazia, porque eles estavam a ouvir lá na Vortal, mas também estavam a ouvir os alemães”. A integração de Albino não foi feita apenas a nível da empresa em Portugal, mas também ao nível da empresa na Alemanha.

Inês Melo destaca que o Albino não é tratado de forma especial por ter uma deficiência intelectual, “qualquer colaborador pode divulgar algo que faz”. Até mesmo os colegas não parecem estar preocupados com a deficiência de Albino. Todos os colegas gostam de estar com ele. Mas mais que isso gostam de o ouvir e de conversar com ele. Todos os dias, a rotina é a mesma. “Ele vai, faz as suas paragens, bate na porta de cada um e conta as coisas. Foi a este evento e depois àquele”. Tudo isto são sinais de que o Albino gosta do que faz e sente-se bem e integrado no seu trabalho.


Hoje em dia o Albino é uma referência aqui na empresa e torna esta empresa diferente, mais humana e isso é muito importante” - Bernardo Lopes

Albino vai todos os dias no gabinete de Bernardo Lopes, diretor dos recursos humanos da Vortal. “Entra, cumprimenta e conta sempre as coisas que lhe acontecem, como foi o fim de semana, foi à praia com o pai, e foi almoçar e jantar não sei onde, conta tudo dele”, relembra Bernardo.

O dia de trabalho termina às 12:30 horas. Cheio de fome, chega à Cerci e dirige-se ao refeitório. Todos os dias encontra Ana Santos, diretora geral do centro CTVAA, a almoçar. Ana conta que Albino “chega com um ar importante, porque esteve a cumprir uma missão e isso é de facto uma coisa que nós não lhes podemos dar se não estiverem integrados realmente num sítio”.

Enquanto os trevos de três folhas andam à deriva, com rotinas atrás de rotinas e vivendo serenamente a sua vida, os trevos de quatro folhas, notáveis pelas suas particularidades, fazem de tudo para não serem rotulados de deficientes. Albino é a prova disso mesmo. Os anos foram-se passando e as dificuldades apareciam. Mas não foi por isso que Albino desistiu. Encontrou sempre maneira de se fazer destacar. No final do dia, o que resta é um sentimento de realização e satisfação para com a sua vida.

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